segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Magnífico


Na década de 70 aos sábados, após a novela das oito, a Globo apresentava uma sessão de filmes chamada "Primeira Exibição", onde os "filmes do cinema eram apresentados pela primeira vez na televisão".  Tudo bem que no início era assim, porém após alguns anos os filmes eram reprisados, perdendo assim o motivo de manter o título da sessão.  Mais tarde o nome mudou para "Tela Quente".

Dentre alguns filmes que me lembro está O Magnífico (Le Magnifique, França, 1973), uma comédia francesa dirigida por Philippe de Broca e estrelada por Jean Paul Belmodo e Jacqueline Bisset.  Na história, Belmodo interpreta François Marlin, um pobre escritor de livros policiais baratos, que tem como principal personagem Bob Saint-Clar, um superagente secreto, estilo James Bond, que consegue resolver seus casos com a maior facilidade e ainda achar tempo para esbanjar seu charme com as mulheres.

Enquanto a criatura Saint-Clar percorre o mundo vivendo aventuras ao lado de belas mulheres, o criador Marlin tem uma vida solitária dentro de um velho apartamento com problemas elétricos.  À medida que Marlin vai escrevendo sua história, o filme mostra as respectivas cenas.  Assim, temos um filme dentro do outro.  Um contando a vida do escritor e o outro contanto a história contida nos seus livros.  Em ambas histórias, o personagem principal é vivido por Belmodo.  Até aqui nada inédito.

O charme do filme está na interação de Marlin com a realidade e suas influências em sua obra.  Ele muda sua história de acordo com outros acontecimentos que o cercam na vida real.  O editor que não lhe dá aumento transforma-se no vilão de suas histórias, o eletricista que não fez o conserto em seu apartamento torna-se um personagem que aparece no meio de uma cena de tiroteio e é sumariamente metralhado. 

Marlin conhece e se apaixona por uma linda uma linda moça chamada Christine (Jacqueline_Bisset), que tem grande interesse por sua obra.  Devido à excitação de da garota ao falar de seus livros, em determinado momento Marlin começa a sentir ciúmes de seu personagem, no caso Saint-Clar.  Desse momento em diante, passa a escrever cenas em que tudo começa a dar errado para o personagem.  São cenas extremamente divertidas.   

Em uma das cenas do agente secreto Saint-Clar, ele captura um agente inimigo que somente fala albanês.  Para pegar o depoimento do prisioneiro é chamado um grupo de pessoas.  Então vem a explicação:
-Nós temos um interprete Albanês, mas ele só fala Romeno. Então nós tivemos que achar um Romeno, mas ele só fala Sérvio. O Sérvio só sabe Russo, o Russo só sabe Tcheco. Felizmente, eu falo Tcheco...

Enfim, trata-se de uma grande comédia que merece ser revista. Enquanto aguardamos seu lançamento oficial no Brasil, a única forma de acesso ao filme é baixando via internet, no site Legendas.tv já é possível conseguir as legendas em português.  No início deste artigo você tem o link do YouTube com o trailer da história.

Divirtam-se.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

West And Soda



Desde a criação do cinema no final do século 19, a conquista do Oeste Americano, período de 1860 a 1890, foi retratada com muita veemência nas telas. O sucesso do gênero conhecido como faroeste, ou Western, perdurou fortemente até o final dos anos 50, porém, na década seguinte os americanos já não se empolgavam tanto com a idéia. O que fez declinar sensivelmente o número de produções.

Todavia em meados da década de 60, na Europa, cineastas italianos, principalmente, além de espanhóis e alemães, resolveram continuar investindo no gênero. Para tanto, “importaram” atores americanos, muitos deles pouco conhecidos na época, como Clint Eastwood e Lee Van Cleef. Na maioria das vezes os filmes eram rodados na Espanha devido a semelhança com o Oeste Americano. Assim estava criado o faroeste-espaguete, ou western-spaguetti, cujo sucesso mundial ressuscitou o gênero faroeste. Dentre as principais produções, destacam-se a trilogia do diretor Sérgio Leone: Por um punhado de dólares (1964), Por uns dólares a mais (1965) e Três homens em conflito [ou O bom, o mau e o feio] (1966), este considerado por muitos o melhor filme do gênero e Django (1966), de Sergio Corbucci.

Foi neste ambiente que em 1965 o animador italiano Bruno Bozzetto (nascido em 03/03/1938) lançou West And Soda, seu primeiro longa-metragem em animação. O desenho consegue satirizar e homenagear os faroestes americanos. Lá estão todos os elementos básicos: o mocinho, a mocinha, o bandido, os índios, a disputa por terras e pelo amor da mocinha. Com poucos recursos, o premiado autor Bruno Bozzetto conseguiu realizar uma obra-prima cultuada em todo mundo. No vídeo de abertura deste post você vê a cena do duelo entre o mocinho e os bandidos.

O desenho chegou a ser exibido na televisão brasileira (Sessão da Tarde), porém há muitos anos não reprisa. Ainda hoje com todas as facilidades de DVDs e TVs à cabo, o filme ainda se encontra pouco acessível no Brasil, estando somente disponível em DVD importado (em italiano) ou baixando da internet. Inclusive já postei as legendas em inglês no site Legendas.tv para que uma boa alma se habilite a traduzir e disponibilizar para mais pessoas que não conhecem o filme ou não sabem italiano ou inglês.

Quanto ao animador Bozzetto vale destacar seu grande talento e capacidade de se adaptar aos novos tempos e meios de comunicação. Desde 1999 vem ganhando vários prêmios com suas animações no formato flash voltadas para a internet. Abaixo alguns links destes trabalhos:


Saiba mais sobre:


Filmografia completa de Bozzetto

Outras produções de Bozzeto em flash

Faroeste-Espaguete


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Força do Destino - Paródia dos Simpsons



Início dos anos 80, mais precisamente 1982, Richard Gere então com 33 anos vinha de um grande sucesso, Gigolô Americano (EUA, 1980), quando estrelou o filme A Força do Destino (An Officer and a Gentleman, EUA, 1982), onde interpretava um malandro criado nas ruas que decidiu transformar-se num oficial. Para conseguir fazer o curso de piloto de jatos, com duração de 6 anos, deveria passar por 13 semanas de intensivos testes, sob as ordens do durão Sargento Foleuy (Louis Gossett, Jr., ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante). Durante o curso conhece Paula (Debra Winger), uma garota que trabalha numa indústria local. Enfim, um roteiro que não foge ao trivial, porém, o filme foi um enorme sucesso que alavancou a carreira de Gere, que passou ao grupo de estrelas de primeira grandeza do cinema. O motivo para o sucesso do filme talvez possa ser explicado pelas excelentes atuações dos artistas envolvidos com a produção. Grandes atuações à parte, a cena que marcou o filme foi a chegada de Gere ao local onde sua amada trabalhava. Ele vestido de Oficial adentra à fábrica, pega a mocinha no colo, sob os olhares dos demais funcionários e tem uma saída triunfal. Isto tudo acontece tendo ao fundo a romântica música Up Where We Belong (Oscar de melhor canção).

Em 1990 no seriado Os Simpsons, episódio Uma Vida Turbulenta, Margie Simpson tem mais uma decepção com o marido Homer, que lhe dá uma bola de boliche (!) de presente de aniversário. Chateada, ela resolve não devolver a bola a ele, como ele esperava, mas sim aprender a jogar. O professor de boliche é um galanteador, que se aproveita do momento de fraqueza de Margie. Em determinado momento eles combinam um encontro em um hotel. Ao se dirigir para o local, ela passa por uma bifurcação na estrada. Um caminho leva para o hotel e o outro para a usina onde seu marido Homer trabalha. Ela opta pelo marido e vai até ele, imitando assim a famosa cena de Richard Gere, inclusive com a música tema.

A produção dos Simpsons caprichou nos detalhes a fim de que o resultado final ficasse o mais próximo possível do original, contudo, em se tratando dos Simpsons o humor escrachado não poderia faltar. Na cena original uma colega da protagonista se emociona e bate palmas dizendo “É isso aí Paula, é isso aí”. Já no episódio dos Simpsons, Lenny, o amigo do Homer repete “É isso aí Homer, é isso aí”, ao fundo um equipamento, que antes indicava “Okay” (tudo certo) mudou para “Danger” (perigo). Não esqueçamos que a cena acontece numa usina atômica... Outro detalhe acrescentado pelo seriado é um supervisor que pergunta ao Homer: “O que digo ao patrão?”, ao que ele responde: “Diga a ele que vou para o banco detrás do meu carro, com a mulher que eu amo e vou ficar lá uns dez minutos, no mínimo...”

Sempre esperei que alguém disponibilizasse as duas cenas em conjunto, mas isto nunca aconteceu. Assim, perdi algumas horas de sono para montar o vídeo acima e colocá-lo no YouTube e neste post.

Divirtam-se.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A Ignorância ao Alcance de Todos


Transcorria o ano de 2006. Nesta época eu trabalhava na maravilhosa cidade de Guarapari/ES. O tempo extra após o corrido almoço era utilizado em eventuais caminhadas na Praia das Castanheiras. Outra ótima opção era percorrer alguns sebos próximos ao centro da cidade. Eram dois imensos prazeres.

Com pouco investimento é possível sair destes sebos com obras sensacionais, ou não. O fato é que num dia feliz encontrei um livro com o curioso título: A Ignorância ao Alcance de Todos – Cartilha de Analfabetização Sem Mestre, escrito por Nestor de Holanda e publicado em 1962 pela Editora Letras e Artes.

Considerando-se que naquele dia meu tempo estava esgotado, não tive muito tempo para folhear o livro e descobrir o que pretendia o autor, que aliás eu desconhecia. Porém o baixo investimento demandado, cinco Reais, me pareceu valer à pena correr o risco de fazer um mau negócio. Assim, optei pela compra.

O livro é um grande registro social do início da década de 60. Um período de elevada efervescência cultural e política. O autor, de forma sarcástica propõe a Campanha Nacional de Analfabetização com o objetivo de “luta tenaz contra os que não são analfabetizados, para preservação desse fabuloso ‘status’ social.” Com inteligentes comentários sobre a língua portuguesa o autor vai contando suas histórias sobre as personalidades daquela época. Abaixo alguns trechos da obra:
  • “Quando Leonardo Vilar regressou da França, depois da estrondosa vitória de ‘O Pagador de Promessas’, em Cannes, um vespertino carioca o chamou, em título, na primeira página, ‘protagonista principal’. Mostrei a notícia a um crítico de cinema. E ele:
    - Ainda não assisti ao filme extraído da peça de Dias Gomes. Por isso, não sei se o Vilar é mesmo o protagonista principal."
  • “O meio mais prático de escrever certo e de modo claro é fugir dos gramáticos. E se puder acrescentar a isso algum talento de não dizer coisa com coisa, melhor, pois ganhará fama, popularidade, dinheiro.
    Aí está Ibrahim, o gênio da Analfa. Um dia deu notícia sobre a casa em que nasceu Ruy Barbosa, em Petrópolis. Outro dia, ao visitar, na Inglaterra, o Castelo de Windsor, falou em manuscritos datilografados. Isso é perfeição. Técnica muita.”
  • “Porque a melhor forma de qualquer um manter-se isento de impostos ainda é não pensar no que os outros dizem de nós. Os leitores riem, mas vamos vivendo, enriquecendo.
    E esta forma consiste em acreditar no princípio de Moro-Giafferi:
    ‘Prezado senhor, a metade dos leitores que viram este jornal não viu este artigo; a metade dos que viram o artigo não o leu. A metade dos que o leram não o compreendeu. A metade dos que o entenderam não acreditou. E a metade dos que acreditaram não tem importância’.”
  • “Nos bancos, os homens que assinam cheques todos os dias usam, hum, treis, cincoenta, catorze e outras grafias que podem parecer flaviocavalcantismos.
    Têm medo de que, antes de um, escrevam ‘cento e’, ‘quinhentos e’ ou ‘mil e’.”
    [...]
    “Mostra que há dois caminhos na vida: saber gramática ou ter dinheiro no banco. Aconselho o último. Porque ainda não houve erro de português que impedisse um cheque de ser pago.”
  • “Há os que defendem a crase nos casos de ambigüidade.
    Exemplo de ambigüidade: uma briga entre Luz Del Fuego e qualquer de suas cobras.
    - Quem venceu? – pergunta um torcedor.
    - Ela.
    - Qual das duas?
    - ‘Matou à mulher a cobra’.
    Entende-se que a jibóia ganhou de Luz Del fuego. Mas a mesma resposta, mudando a crase, toma outro sentido:
    - Quem venceu?
    - Ela.
    - Qual das duas?
    - ‘Matou a mulher à cobra’.”
  • Sobre Roquete-Pinto: “Quando diretor da antiga Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, ouvia, certa noite, o saudoso Francisco Alves cantar:
    - ‘Eu quero uma mulher bem nua, bem nua’ etc.
    Telefonou para a emissora e mandou suspender o programa.
    No dia seguinte, o seresteiro foi falar com ele:
    - Dr. Roquete, estou meio aborrecido, porque o senhor cortou minha audição.
    - Fui obrigado, Chico.
    Disse por quê:
    - Uma mulher bem nua todos nós queremos. Mas não se pode anunciar isso pelo rádio”.
  • “Outro cantor famoso é o Black-Out. O compositor Peterpã foi ensinar-lhe samba, cuja letra dizia:
    - ‘Com muita satisfação’ etc.
    Black-Out começou a cantar.
    - ‘Com muita sastifação’…
    - Não é sastifação, gritou o autor. É satisfação.
    Blackout se defendeu:
    - Ora essa, Peterpã! Comecei a aprender o samba agora e você já quer que eu saiba a letra?!”
  • Outra de Black-Out: “Teria ele de atuar num programa, a cuja estréia o anunciante iria comparecer. A letra de seu samba era:
    - ‘Olga!... Oh, Olga!...’ etc.
    No ensaio, Black-Out foi logo trocando as bolas:
    - ‘Orga!... Oh, Orga!...’
    Mario Brasini, diretor do programa, protestou:
    - Não é Orga, Black-Out. É Olga. Diga comigo: ‘Olga, Olga, Olga...’
    Ele treinou e acabou dizendo certo.
    Na hora da irradiação, Brasini estava preocupado, temendo que Black-Out repetisse o Orga diante do anunciante. Quanto a orquestra atacou:
    - ‘Olga!... Oh, Olga!...’
    Brasini respirou aliviado. Mas no verso seguinte:
    - ‘Estou de forga...’”
  • “Aqui é verdade, ficamos embasbacados com muitos idiomas estrangeiros. É conhecido, por exemplo, o episódio do alfaiate cearense que se instalou em Londres, com uma grande tabuleta na porta do estabelecimento: ‘Mr. Paiva’.
    Os fregueses só o chamavam ‘Peiva’.
    Ele trocou a tabuleta para ‘Peiva’.
    Os fregueses passaram a chamá-lo ‘Piva’.
    Ele mudou para ‘Piva’.
    E, aí, voltou a ser ‘Paiva’.”

Ainda que as citações sejam de personalidades da época, o que pode dificultar sua total compreensão pelo leitor mais jovem, o texto apresenta um humor brincalhão que ri de si mesmo e que vai além de seu tempo. Terminei o livro num fôlego só. Somente após o final da leitura busquei a internet para saber mais sobre o autor, aquela pessoa que tanto me fez rir de suas histórias e que tornara-se meu amigo. Porém as notícias não foram boas. Embora tenha sido um autor de sucesso de vendas, seus livros não estavam com edições disponíveis. E, principalmente, a pior de todas as notícias: o autor falecera em 1970, ou seja, há 36 anos.


Sei que é estranho explicar, mas baixou um clima de perda enorme. Tive a nítida sensação de que a morte de Nestor de Holanda tinha acontecido no dia anterior. Não me contive e entrei em contato, via e-mail, com um de seus filhos a quem declarei minha admiração pela obra de seu pai. Sem dúvidas ele entendeu o que eu estava sentindo. Inclusive me informou que a obra de seu pai estava em fase de digitação a fim de futuros relançamentos, o que seria o máximo.


E pensar que seu livro seguinte teve o título de “O Puxa-Saquismo ao Alcance de todos”...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A Noite Em Que O Sol Brilhou


Há trinta anos ainda existia a "Sessão Coruja" na televisão. Normalmente os filmes eram exibidos depois da meia noite. Assim, não raro, a gente não conseguia assistir o filme totalmente, haja vista precisar acordar cedo no dia seguinte. Nestes casos, restavam-nos torcer para que o filme fosse repetido e pudéssemos saber como terminava a trama.

Alguns filmes consegui ver posteriormente, outros não. Hoje falarei em especial de um que não consegui ver o final naquela época. Trata-se da comédia Watermelon Man (EUA, 1970), que no Brasil passou com o instigante título de "A Noite Em Que O Sol Brilhou". O filme conta a história de um branco racista, que um dia acorda negro. Não conseguindo "embranquecer", o protagonista tenta voltar à sua vida normal, porém se depara com diversas mudanças no comportamento das pessoas que o rodeiam. Este é o primeiro filme feito por negros abordando sua causa, dirigido pelo cineasta e ativista político Melvin Van Peebles, que primorosamente mistura humor com política. Um detalhe importante: O ator que "vira" negro, na verdade é um negro, que na primeira parte do filme foi pintado de branco. Isto só foi possível naquela época por se tratar de um filme independente, pois se os grandes estúdios estivessem envolvidos, com certeza o papel seria de um ator branco, que seria pintado de negro.

Ainda hoje com todas as facilidades de DVDs e TVs à cabo, o filme ainda se encontra pouco acessível no Brasil, estando somente disponível em DVD importado (em inglês) ou baixando da internet.

[Atualizado em 21/05/2009] Amigos, informo que após algumas noites sem dormir, consegui completar a tradução das legendas do filme para o português. Espero que o filme e a causa negra consigam a divulgação que merecem. Diversão garantida com muitas gargalhadas.


Download no Megaupload
Filme Completo [Legendado em Português]
Assista On Line


Veja no You Tube

domingo, 21 de setembro de 2008

Seriado Marco


Originalmente escrevi este artigo com a finalidade de publicação no site RetroTV, porém infelizmente não foi aproveitado. Assim, após um longo período engavetado, segue para apreciação de todos.

Ficha Técnica

Título: Marco (Japonês: Haha wo Tazunete Sanzen Ri / Inglês: From the Apennines to the Andes ou 3000 Leagues in Search of Mother/1976/Japão/Cor)
Produção: Nippon Animation, Fuji TV.
História Original: Edmondo de Amicis
Adaptação: Kazuo Fukasawa
Desenho dos Personagens e Supervisão de Animação: Yoichi Kotabe
Desenho e Disposição das Cenas: Hayao Miyazaki
Direção: Isao Takahata
Formato: 52 episódios de 24 minutos
Dublagem: TVS
Abertura brasileira: Mário Lúcio de Freitas


O Desenho

A história de Marco se passa em 1881 na Itália, mais precisamente na cidade de Gênova, onde vive a família Rossi, composta por Marco, um menino de nove anos, seu pai, Pedro, sua mãe, Anna e seu irmão mais velho, Paulo.

Devido à grave crise econômica que se abateu sobre a Itália, a família Rossi passava por sérias dificuldades financeiras. O pai de Marco ganhava muito pouco como diretor de um hospital para pobres, enquanto seu irmão Paulo estudava para ser maquinista. Neste cenário, surge a oportunidade para a mãe de Marco ir trabalhar na Argentina. A decisão pela viagem e a separação da família são muito dolorosas.

Após um ano, param de chegar as cartas da mãe de Marco, vindas da Argentina. Diante do fato de não receber mais notícias de sua mãe, Marco fica desesperado e decide ir à Argentina em busca dela. A princípio seu pai não autoriza a viagem, porém concorda, diante das diversas tentativas do menino, que inclusive tenta viajar clandestinamente em um navio.

Assim, inicia-se a longa viagem de Marco, que é acompanhado por um pequeno macaco de estimação. Ao longo da viagem o menino vai conhecendo novas pessoas e muitas dificuldades, haja vista que sua mãe já não mais estava no mesmo endereço conhecido pela família. Cada episódio é um festival de desencontros e novos desafios a serem vencidos pelo menino.

Marco é uma produção japonesa de 1976, que apresenta um estilo de animação simples e eficaz, com paisagens bem detalhadas e realísticas, que capturam com fidelidade a época em que se passa a série. A cidade portuária de Gênova é ricamente detalhada com sua arquitetura e seus habitantes. A construção dos personagens também é muito feliz, haja vista que são bastante carismáticos e humanos com suas alegrias e tristezas.

Se você quiser curtir uma das melhores animações já produzidas, não deve deixar de ver ou rever Marco.

Personagens

Os nomes dos personagens têm pequena variação de um país para o outro. Exemplos: Violeta (Fiorina ou Fiolina), Paulo (Tonio), Dominó (Amédio). Considerando as poucas informações obtidas, além de fazer quase 30 anos que assisti a versão brasileira, segue abaixo os nomes dos personagens de acordo com a versão portuguesa.

Marco Rossi: O menino italiano, filho de Pedro e Anna Rossi, que vai em busca de sua mãe na Argentina.

Pedro Rossi: Pai de Marco. É o diretor de um hospital para pobres que serve a diversas pessoas doentes e desempregadas. Ganha pouco, o que dificulta a vida da família.

Anna Rossi: Mãe de Marco e casada com Pedro. Devido às dificuldades financeiras se propõe a viajar para a Argentina a fim de trabalhar.

Paulo Rossi: É o irmão maior de Marco. Estuda para ser maquinista e poder ter um bom salário para ajudar a família.

Peppino: É o pai de Violeta, Conchetta e Julietta. A família vive de espetáculos nas ruas de Gênova. Seu sonho é juntar dinheiro para poder viajar para a Argentina. Ainda em Gênova, conhecem Marco e dele se tornam amigos.

Violeta: É uma menina que tem grandes habilidades com marionetes. Leva uma vida muito triste até conhecer Marco, por quem demonstra muito carinho e amizade.

Conchetta: É a irmã maior de Violeta. Uma boa moça que canta e ajuda o pai nas apresentações e na criação das irmãs menores, Conchetta e Julietta.

Julietta: É a irmã menor de Violeta e Conchetta. É uma menina feliz, que se entusiasma quando aparece Dominó, o pequeno macaco de Marco.

Dominó: Um simpático macaco vindo do Brasil. Seu verdadeiro dono é Antonio, porém ele se torna o inseparável companheiro de Marco em sua viagem à Argentina.

Emílio: É o melhor amigo de Marco e possui um irmão menor chamado Bernardo. Devido à enfermidade de sua mãe e as dificuldades financeiras de sua família, ele arruma um trabalho e deixa se freqüentar a escola.

Bernardo: É o irmão menor de Emilio. É defendido por Marco dos garotos que o molestam na escola.

Pablo: É um garoto pobre que vive numa favela Argentina. Após uma briga com Marco, tornam-se grandes amigos. Participa de uma das mais fortes cenas do seriado.

Joana: É a irmã de Pablo. Assim como Julietta, gosta de Marco e principalmente do macaco Dominó, com quem se diverte muito.

Curiosidades
Sobre o Autor

O escritor italiano Edmondo De Amicis (21/10/1846-12/03/1908) teve formação militar desde os 16 anos, o que implicou em seu perfil de patriota e incansável viajante. Suas muitas obras foram caracterizadas pela mescla de romantismo e realismo com um propósito altamente ético de orientar o leitor a sempre fazer o bem. Sua obra mais conhecida (Cuore, 1886) foi construída para provocar emoções e lágrimas no jovem leitor, tendo sido traduzida em quase todos os idiomas e levada ao cinema, televisão e quadrinhos. Foi a partir de dois capítulos desse livro que foi construída a história de Marco.

Sobre a História

A história de Marco já teve adaptações anteriores ao seriado. Consta que em 1916 foi realizado um filme mudo com esse enredo (Dagli Appennini alle Ande), dirigido por Umberto Paradisi. Em 1943, houve uma produção italiana dirigida por Flavio Calzavara. Na década seguinte, 1959, foi a vez de uma co-produção Ítalo-Argentina dirigida pelo italiano Folco Quilici. Todas essas produções foram filmadas com atores. Após o sucesso internacional do seriado de 1976, mais precisamente nos anos 80, foi lançado um filme de longa-metragem com um resumo da história, tendo por base o mesmo material usado no seriado. Em 1999, houve uma nova produção animada feita para o cinema (Marco the Movie - 3000 Leagues in Search of Mother), com a canção tema ("Catch a Dream") na voz de Sheena Easton.

Sobre a Equipe de Produção
A produção contou com a mesma equipe que, dois anos antes, havia produzido outro seriado muito famoso (Heidi, 1974). Esses desenhos da produtora Nippon faziam parte do projeto World Masterpiece Theater, que durou até meados dos anos noventa e que a cada ano apresentava um seriado baseado em um livro ou história clássica diferente.

Fica clara a influência do diretor Isao Takahata (nascido no Japão em 29/10/1935) pelo neo-realismo italiano, movimento este que propôs a representação objetiva da realidade social como forma de comprometimento político e que teve seu período mais produtivo (e significativo) durante os anos de 1945 e 1948. As dificuldades sociais nesse período pós Segunda Grande Guerra em muito se assemelhavam àquelas do final do século XIX, período em que ocorre a história de Marco. O filme O Ladrão de Bicicletas, produção italiana de 1948, é citado com uma forte influência para o seriado e para o trabalho de Takahata, que diferia da maioria dos animadores que focavam seus trabalhos num tom mais fantasioso. Suas produções, ao contrário, eram realísticas e carregadas de expressionismos. Foi, com certeza, o principal responsável pelo despertar de um sentido de responsabilidade social em Hayao Miyazaki, seu colaborador e futuro diretor premiado.

Em 1975, o então desenhista Hayao Miyazaki (nascido em 05/01/1941, no Japão) viajou para a Itália e a Argentina para a pré-produção de Marco. Em 2001, Miyazaki foi responsável pelo roteiro e pela direção do premiadíssimo A Viagem de Chihiro, vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação.

O desenhista Yoichi Kotabe (nascido em 15/09/1936, em Taiwan) foi o responsável pelo desenvolvimento dos personagens da série. Kotabe também trabalhou na Nintendo, tendo inclusive trabalhado como ilustrador oficial da série de jogos Super Mario, desde o original Super Mario Bros. Trabalhou ainda na série animada e nos jogos de Pokemon.

Diversas
Ainda sobre a história vale destacar uma situação paradoxal: a crise econômica vivida na Itália no final do século XIX foi responsável pela vinda de diversos imigrantes para a América do Sul, aí incluídos Argentina e Brasil. Em alguns episódios os imigrantes europeus são discriminados pelos habitantes locais que os vêem como cidadãos de segunda linha. Curiosamente, hoje esta situação inverteu-se, estando a Europa como destino de diversos sul-americanos que buscam melhores oportunidades, e não raro se deparam com algum tipo de preconceito.

Embora a reconstituição de época e locações tenham sido um primor, pequenos deslizes, porém perdoáveis, ocorreram: A história de Marco acontece em 1881, quando ele fica amigo de um marinheiro brasileiro chamado Roque, que numa cena samba e cantarola Tico-Tico no Fubá de Zequinha de Abreu, música que somente seria criada em 1917 e lançada apenas em 1931.

Na Itália, até recentemente, era comum as crianças receberem dos pais ou da escola um exemplar do Livro Cuore, que originou a história de Marco.

No Brasil, o seriado passou em pela primeira vez em 1978 na extinta TV Tupi, dentro de Programa Silvio Santos, mais precisamente no quadro Domingo no Parque. Esta estratégia havia sido usada antes com o seriado Heidi. A dublagem foi marcante. Principalmente a do protagonista Marco, dublado por Leda Figueiró, e do Sr. Peppino, dublado pelo saudoso Eleu Salvador. Em minhas recordações a última reprise foi em 1981. Segundo alguns aficionados, a série também teria passado na TV Record. Informações de alguns fãs e colecionadores, não confirmadas pelo SBT e Record, dão conta de que a matriz brasileira do seriado foi destruída em algum incêndio numa destas emissoras (até parece a história do National Kid).

Numa pesquisa realizada em 2006 entre celebridades da TV Japonesa, o seriado Marco ficou na 20ª colocação entre as mais queridas e admiradas produções para TV.

Em diversos países da Europa, o seriado foi lançado em VHS e depois em DVD. Em Portugal, foi lançada uma versão com 40 episódios completos, com dublagem em português de Portugal. Os 12 episódios excluídos foram basicamente do meio da história. Foram conservados os primeiros e últimos episódios (vide abaixo Lista de Episódios). A dublagem portuguesa é boa, todavia demora algum tempo até nossos ouvidos estarem devidamente treinados para uma rápida compreensão dos diálogos.

Tema de Abertura

A abertura portuguesa teve por base a Alemã, já no Brasil a abertura foi similar àquela utilizada na Espanha, porém com produção brasileira do multimídia Mário Lúcio de Freitas. Abaixo reproduzimos a letra da abertura espanhola com a respectiva tradução:

En un puerto italiano (muy lejano) [Em um porto italiano (muito distante)]
al pie de las montañas [aos pés das montanhas]
vive nuestro amigo Marco [vive nosso amigo Marco]
en una humilde morada. [em uma humilde morada.]

Se levanta [Se levanta]
muy temprano [muito cedo]
para ayudar a su buena mamá. [para ajudar sua boa mamãe.]

Pero un día la tristeza [Mas um dia a tristeza]
llega hasta su corazón, [chega ao seu coração,]
mamá tiene que partir [mamãe tem que partir]
cruzando el mar a otro país. [cruzando o mar para outro país.]

No te vayas mamá [Não se vá mamãe]
no te alejes de mi [não fiques longe de mim]
adiós mamá [adeus mamãe]
pensaré mucho en ti [pensarei muito em ti]
no te olvides mamá [não se esqueças mamãe]
que aquí tienes tu hogar. [que aqui você tem o seu lugar.]

Si no vuelves pronto iré [Se não voltares logo eu irei]
a buscarte donde estés [te buscar aonde estiveres]
no me importa donde vayas, [não me importa aonde você vá,]
¡te encontraré!. [te encontrarei!]
Lista de Episódios

Segue abaixo a lista de episódios a fim de facilitar futuras pesquisas do leitor. Note que na dublagem portuguesa [PT] constam apenas os títulos dos 40 episódios constantes na coleção de DVD lançada em Portugal. Os demais episódios, assisti na versão espanhola [ES].


Download do Seriado

01 - A Despedida - Primeira Parte [PT] - 20/08/2010 
Assista On Line
 
02 - A Despedida - Segunda Parte [PT] - 31/08/2010 
Assista on Line

03 - Pelas Ruas de Gênova [PT] - 07/09/2010 
Assista on Line (ainda não disponível)


04 - À Procura de Trabalho [PT] - 07/09/2010 
Assista on Line

05 - Um Motivo Para Celebrar [PT] - 07/09/2010
Assista on Line (ainda não disponível)

06 - O Primeiro Salário [PT] - 07/09/2010
Assista on Line (ainda não disponível)

07 - O Novo Apartamento [PT] - 07/09/2010
Assista on Line 

08 - O Teatro de Fantoches [PT] - 07/09/201
Assista on Line

09 - Desculpa Paizinho [PT] - 07/09/2010
Assista on Line 

10 - Buenos Aires Ali Está Mamãe [ES] - 07/09/2010
Assista on Line

11 - O Talento de Violeta [PT] - 11/09/2010
Assista on Line
 
12 - Vamos Ver o Dirigível [ES] - 11/09/2010 
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13 - Adeus Violeta [PT] - 11/09/2010
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14 - O Meu Amigo Roque [PT] - 11/09/2010
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15 - O Passageiro Clandestino [PT] - 11/09/2010
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16 - À Bordo do Folgore [ES] - 19/09/2010 
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17 - O Passo do Equador [ES] - 19/09/2010 
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18 - Já Estamos no Rio [ES] - 19/09/2010 
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19 - O Barco dos Emigrantes [PT] - 19/09/2010 
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20 - Noite de Tormenta [ES] - 19/09/2010 
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21 - Terra à Vista [PT] - 25/09/2010
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22 - Onde Estás Mãezinha? [PT] - 25/09/2010
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23 - Não Era Mãezinha [PT] - 25/09/2010 
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24 - Olá Violeta [PT] - 25/09/2010
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25 - O Grande Êxito de Peppino e Companhia [PT] - 25/09/2010
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26 - Através dos Pampas [ES] - 25/09/2010
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27 - Qual é a Moral da História [PT] - 06/10/2010
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28 - A Grande Estância dos Balboa [ES] - 06/10/2010
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29 - Neve [PT] - 06/10/2010
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30 - Um Gaúcho Chamado Dom Carlos [PT] - 06/10/2010
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31 - Longa Noite [ES] - 30/10/2010
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32 - Logo Diremos Adeus [ES] - 30/10/2010
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33 - A Mãezinha Não Está Aqui! [PT] - 10/11/2010
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34 - Quero Voltar Para Gênova [PT] - 10/11/2010
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35 - Uma Carta da Mamãe [PT] - 10/11/2010
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36 - Uma Ovelha Negra na Família [PT] - 10/12/2010
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37 - Um Dia Interminável [PT] - 10/12/2010
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38 - Encontrar-te-ei Mamãe [PT] - 10/12/2010
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39 - Caminho de Rosário [ES] - 10/12/2010
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40 - A Estrela de Itália [PT] - 10/12/2010
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41 - Caminho de Córdoba [ES] - 21/02/2011
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42 - Pablo, o Meu Novo Amigo [PT] - 21/02/2011

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43 - A Mamãe Tem Que Estar Aqui [PT] - 21/02/2011
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44 - Há Que Salvar a Joana [PT] - 21/02/2011

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45 - Adeus Pablo [PT] - 02/03/2011
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46 - Uma Viagem Acidentada [PT] - 02/03/2011
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47 - A Mamãe Vive Perto Dessa Montanha [PT] - 02/03/2011
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48 - Adeus, Velha [PT] - 24/03/2011
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49 - Para lá do Sonho [PT] - 24/03/2011
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50 - O Fim da Viagem [PT] - 03/04/2011
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51 - Não é um Sonho [PT] - 03/04/2011
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52 - De Regresso à Gênova [PT] - 03/04/2011
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Veja no You Tube imagens da série.
Nota Final
[Atualização em 01/06/2009]: Obrigado à Mario Lúcio de Freitas por gentilmente informar o nome da dubladora do Marco e do estúdio de dublagem]


Se você possuir mais informações e quiser ajudar com alguma inclusão/correção, favor entrar em contato.
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